Perdão
“Quanto mais eu rezo, mais fantasma me aparece!”
Esse ditado popular, lembrado pelo Vini, traduz, de forma irônica, o post que escrevo agora:
Recentemente, fui procurado por um antigo colaborador. Ele apareceu bem vestido, com um sorriso bacana estampado no rosto e um ar de quem já está chegando num ponto da vida onde as conquistas são freqüentes.
Colocou a cara dentro do escritório, com uma intimidade sincera, e perguntou se eu tinha alguns minutos pra ele. Eu estava no meio de uma reunião e já quebradão do dia comprido que tinha tido até então. Ainda assim, disse a ele que esperasse um pouco que falaria rapidamente com ele.
Depois de encerrar a reunião, convidei-o pra entrar e, depois de cumprimentá-lo propriamente, voltei pra minha cadeira e fixei os olhos nele. Uma cara de revelação se mostrou e ele disparou:
- Nei, no tempo que eu trabalhei contigo, aqui na Good Music, eu levei algumas coisas e nunca fiquei bem com isso. Vim aqui pra pagar e encerrar essa questão.
Fiquei pasmo e mantive o olhar fixo nos olhos dele. Ele continuou com um certo nervosismo ao ver que não esbocei reação dizendo:
- Tu já sabia, né?! – procurando uma concordância minha.
Mantive o silêncio e o olhar.
Depois de alguns instantes perguntei:
- O que tu levaste?
- Alguns pedais e acessórios – disse ele, constrangido.
Ele seguiu falando e disse que se sentia envergonhado por ter feito o que fez e que não conseguia viver em paz com aquilo bla, bla, bla…
Seguiu falando, explicando e justificando.
No final, depois de pegar o numero da minha conta para depositar, perguntou se estava tudo bem e se eu o perdoava.
Depois de olhar bem fundo nos olhos dele disse que o perdão não era meu para dar a ele e que os fantasmas que tinham o acompanhado até esse dia, continuariam com ele até o dia em que ele mesmo se perdoasse pelo que tinha feito. E o fato de ele estar querendo ser perdoado por mim era uma injusta inversão de posição, onde ele projetava toda a culpa que ele trazia nas costas para mim.
Não cabia a mim perdoar.
Ele não teria esse perdão de mim.
As minhas afirmativas causaram desconforto e um pouco de estranheza. Talvez ele esperasse uma benção papal ou uma menção honrosa na casa dos bons samaritanos….sei lá!
Disse a ele, pra encerrar a conversa, que o problema era dele e que ele resolvesse da maneira que ele entendia ser a melhor. Depois de dizer isso, usei a linguagem corporal pra mostrar que a conversa tinha encerrado e que ele podia ir embora.
Ele levantou, se despediu e foi embora.
Alguns instantes depois o Vini, que estava sentado na mesa ao lado e ouviu toda a conversa, disse sabiamente:
“Quanto mais eu rezo, mais fantasma me aparece!”
Bjs….e não rezem tanto!!
nvs